“Eu estava
acostumada a pensar em Nijinsky como se fora uma figura da eternidade, e uma
figura de eternidade não pode morrer! Eu conheço várias meninas que choraram ao
sabe-lo e sem nunca tê-lo visto e eu não estava longe. [...] Li muita coisa
sobre Nijinsky mas quase tudo falava dele durante a sua loucura. Pois eu vou
parar justamente neste ponto, porque afinal é como se ele tivesse morrido. [..] Nijinsky foi o melhor bailarino do mundo. Era como um pássaro, mais leve do que
o próprio ‘espectro da rosa’. A sua mímica era fantástica e ele tinha um grande
desprezo por tudo que era artifício” (Apud Iréne Landau (In: A Morte de
Nijinsky, 1950): segundo Lúcio Leonn, 2016).
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(Imagem para
ilustração do texto de Iréne Landau -Vatslav
Fomitch Nijinski, em “L’après midi d’un faune” / reprodução): Disponível em: http://artsalive.ca/en/dan/meet/bios/artistDetail.asp?artistID=52)
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por Iréne Landau
Transcrição elaborada a partir do Jornal O
Grilo –– Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, por
Lúcio Leonn (2016)
Numa segunda feira à noite quando eu
estava na minha aula de ballet recebi a notícia:
“Nijinsky morreu”.
Não era possível! Nijinsky, o maior
bailarino do mundo, não podia morrer! Não! Aquilo era mentira!
Eu estava acostumada a pensar em
Nijinsky como se fora uma figura da eternidade, e uma figura de eternidade não
pode morrer! Eu conheço várias meninas que choraram ao sabê-lo e sem nunca
tê-lo visto e eu não estava longe.
O mais triste porém foi a vida dêle:
Quando o pequeno Vaslaw completou 10
anos sua mãe, antiga bailarina, colocou-o na grande escola de bailado do teatro
Marynski.
Vaslaw era polonês.
Ele
era uma criança como as outras e muito levado. Tendo sido abandonada pelo
marido, a mãe dele estava na miséria...
Depois de cursar 7 anos no teatro Marynski. Ele entrou na companhia
de Diaguilef onde se tornou o primeiro
bailarino e viajou muito.
Diaguilef brigou com Nijinsky quando êste casou com
Romola.
Sim! Diaguilef, o seu melhor amigo!
Depois veio a guerra que muito os afetou.
Eles tiveram uma filha Kyra que hoje é
uma bailarina pouco famosa na América do Norte.
Com a guerra, o rompimento com Diaguilef e
várias outras razões, Nijinsky perdeu a razão.
Li muita coisa sôbre Nijinsky mas
quase tudo falava dêle durante a sua loucura. Pois eu vou parar justamente
nêste ponto, porque afinal é como se êle tivesse morrido.
Nijinsky foi o melhor bailarino do
mundo.
Era como um pássaro, mais leve do que o
próprio “espectro da rosa”. A sua mímica era fantástica e êle tinha um grande
desprêzo por tudo que era artifício. Até a sua mão guardava a pose natural, sem
levantar ou abaixar um dedo. Tinha uma técnica que ninguém conseguiu igualar.
Tinha pernas horríveis, o que não o impediu sua carreira.
Nijinsky também criou vários bailados,
bailados êstes que revolucionaram o publico snob na apresentação de “L’après midi
d’un faune”. Uns atiravam-lhes tomates e ovos podres e outros flores. Porque “L’après
midi d’un faune” e “Jeux” eram de uma técnica completamente diferente. Os
bailarinos não deveriam fazer caso das cinco posições e até foi dificílimo
acostumá-los a dançarem sem aqueles padrões de movimentos.
Estabeleceu-se uma grande luta contra “L’après
midi d’un faune”. Nijinsky tinha entre seus defensores Rodin e muitos outros
artistas.
Enfim, triunfou.
Toda a vida de Nijinsky foi um triunfo.
As pessoas que o viam batiam-se para arrancar-lhe um pedaço de roupa.
Pena eu não ter nascido há alguns anos
atrás para ter visto com meus próprios olhos a dança de Nijinsky.
(Apud Iréne Landau)
[Faço questão de manter o vocabulário e a gramática característica da escrita original jornal O Grilo––Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves| Década de publicação: 1950], Lúcio Leonn.
Fonte
consultada:
RODRIGUES,
AUGUSTO. Iréne Landau: A Morte de Nijinsky
– Jornal O Grilo, Rio de Janeiro:
Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, Ano I, n.3, p.2, abr.-mai. 1950. Acervo
pessoal (periódico) Lúcio José de Azevêdo Lucena - Lúcio Leonn.
Notas de
contextualização (à parte) minhas:
1. Nijinski
nasceu em Kiev, no dia 12 de Março de 1890;
2. O
Teatro Mariinski foi inaugurado em 1860 - está localizado na cidade russa de
São Petersburgo;
3. Sergei
Diaghilev (nasceu em 1872 e faleceu em 1929): foi agente e diretor artístico,
idealizador dos Ballets Russes (1909-1929) - Uma companhia de grandes
bailarinos famosos;
4. Nijinski
e Diaghilev nutriram ambos, igualmente, os comportamentos de seu tempo: vidas entrelaçadas
entre a Arte (dança), o amor e os tormentos a dois;
5. Pois,
Nijinski se apaixonou pela também bailarina da mesma companhia, Romola de
Pulszkie quando se casaram em Buenos Aires, durante a turnê (ano de 1913). E,
Sergei Diaghilev o despediu da companhia. Atos de ciúmes, entre um e outro. Embora,
Nijinski retorna à companhia por Diaghilev, depois;
6. “O Espectro da
Rosa”
(Balé de um Ato - E o personagem do balé homônimo), interpretado por
Nijinski no Teatro de Montecarlo (França),
onde fez dupla com Tamara Karsavina, no papel da jovem moça, (ano de 1911);
7. Pelo
contexto refere-se à [Primeira] Guerra Mundial (1914-1918);
8. “L’Après Midi
d’un Faune”,
(À Tarde de um Fauno-1912) e “Jeux”
(jogos – em ano seguinte,1913) foram coreografadas\dançadas por Nijinsky – Vindo
a revolucionar à dança moderna como também, o apreciar de uma pernóstica plateia àquela época, acerca da Dança Clássica;
9. Iréne
Landau, também foi aluna de Augusto Rodrigues, época da Primeira Turma da
Escolinha de Arte do Brasil- (EAB). Leia
abaixo, seu depoimento;
10. Iréne Landau diz: “ ‘Tive a infância mais feliz que uma criança poderia ter e sempre que penso nela é a Escolinha que me aparece... No meu tempo todos tomávamos conta da Escolinha, tínhamos a impressão de que ela só existia porque cuidávamos dela e que os professores só estavam ali porque, afinal de contas, tinha que ter gente para ajudar a gente, para dizer que isso ou aquilo era formidável ou muito bom e também porque eles gostavam da gente. Ainda me lembro muito bem como tinha medo que a Escolinha fechasse por falta de dinheiro’. (Carta a Augusto de uma aluna — Irene Landau — da primeira turma da Escolinha, com data de 20 de agosto de 1961)”. Trecho do livro Escolinha de Arte do Brasil. Brasília: MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). In As crianças falam, (1980, p.47);
11. O Texto acima, transcrito do Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves e publicado por Iréne Landau ––faz referência ao ano em que morre (em Londres, no dia 08 de abril de 1950): Vatslav Fomitch Nijinski - “Nosso maior bailarino do mundo”;
11. O Texto acima, transcrito do Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves e publicado por Iréne Landau ––faz referência ao ano em que morre (em Londres, no dia 08 de abril de 1950): Vatslav Fomitch Nijinski - “Nosso maior bailarino do mundo”;
12. Já
Diaghilev e o seu balé russo –– ponto de igualdade de composição de cenário
(arte figurativa); justapõem-se aos movimentos acústicos e coreográficos da
época.
13. Sobre o Jornal O
Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves; pesquisei:
“O primeiro jornal da Escolinha (ainda
chamada Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves), intitulado ‘O Grilo’,
não traz data, mas circulou com as normas diretoras definidas pelos alunos em
conjunto com o professor Augusto Rodrigues, destacando-se: ‘o jornal é dirigido
por uma comissão de cinco membros. Só podiam ser votadas para a comissão,
crianças com mais de dez anos’. Sendo de espírito livre, os artigos deveriam
ser corrigidos o menos possível. Pedia-se sempre ao redator de um artigo que o
revisasse ele próprio. O número um do jornal, mimeografado e colorido a lápis,
exemplar por exemplar, foi lançado sem data e ano, mais provavelmente em
janeiro de 1950”. (Texto do livro
60 anos de Arte-Educação, através da Escolinha de Arte do Brasil. Org: Jader de
Medeiros Britto. In: Capítulo ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: CRONOLOGIA DOS
60 ANOS – 1949. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008, p. 19);
14. Ainda,
o supracitado livro, nos indica mais uma vez, sobre Jornal O Grilo:
“Em março, foi publicado o número dois do jornal ‘O Grilo’, e o número três
circulou em maio, encerrando a breve e significativa história do jornalzinho.
Os dois últimos números foram impressos, [...]”, (Idem. In: Capítulo ESCOLINHA DE ARTE DO BRASIL: CRONOLOGIA DOS 60 ANOS – 1950. Rio de Janeiro: Ed. do Livro, 2008 p.22);
15.
No
período do jornal O Grilo, a
Escolinha, ainda, estava instalada numa pequena sala de passagem (corredor)
para a Biblioteca Castro Alves (sua primeira sede), prédio do Instituto de
Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase), centro do Rio de
Janeiro;
16.
Foi a partir de setembro do ano de 1970 somente, é publicada a primeira edição (o número
zero) do jornal oficial “Arte &
Educação”. Partindo da ideia primordial da professora Zoé Chagas Freitas, a cargo seu
também, coube à editoração geral do jornal e, edição-executiva teve à frente Jader de Medeiros Britto. Contando, ainda com apoio
inicial da educadora, Iara Rodrigues e do cartunista Ziraldo, idealizador do
logotipo do jornal. Além de artigos de Anísio Teixeira. Lúcia Valentim, Nise da
Silveira, Augusto Rodrigues, Ilo Krugli, Maria Helena Novaes, demais
colaboradores; o jornal “Arte & Educação” era formatado e impresso na
gráfica do jornal o Dia;
17.
As
cinco posições básicas dos pés no balé; além de coordenar os movimentos de
braços; o equilíbrio (o eixo gravitacional); seguiam o padrão; a codificação - a
técnica criada pelo coreógrafo francês, bailarino e mestre de dança, Charles-Louis-Pierre
de Beauchamps, (que nasceu em
Versalhes, 30 de outubro de 1631 e faleceu em Paris, fevereiro de 1705) –“Porque “L’après midi d’un faune” e “Jeux”
eram de uma técnica completamente diferente [...]. Foi dificílimo acostumá-los
a dançarem sem [esses] padrões de
movimentos.”[...]. (Iréne Landau, segundo Leonn, 2016). Grifos meus
18. René-François-Auguste Rodin. Importante
artista e escultor francês, influenciado pela
corrente do impressionismo e simbolismo (Nasceu em Paris, em 12 de novembro de
1840 e morreu em Meudon, no dia 17 de novembro de 1917). Rodin teve como assistente
de atelier, a também escultora Camille Claudel (1864-1943), com quem viveu um tórrido
romance.
19.Sobre Diaghilev Ballets Russes. Vide: http://www.russianballethistory.com/ballethistories.htm
20. Destaco especialmente (às crianças), na época, aos escritos no Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves: Iréne Landau e Newton Augusto Goldman. Igualmente, "Na reunião em que se consideram fundada a Biblioteca [de Arte, (1950)] fez-se a eleição por voto secreto para os cargos de bibliotecários. Foram eleitos Iréne Landau e Newton Augusto Goldman" (In: Biblioteca de Arte – Jornal O Grilo, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, ano I, n.3, p.5, abr./mai. 1950, (segundo AUGUSTO RODRIGUES (1950): segundo LUCENA, 2016.).
20. Destaco especialmente (às crianças), na época, aos escritos no Jornal O Grilo –– Jornal da Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves: Iréne Landau e Newton Augusto Goldman. Igualmente, "Na reunião em que se consideram fundada a Biblioteca [de Arte, (1950)] fez-se a eleição por voto secreto para os cargos de bibliotecários. Foram eleitos Iréne Landau e Newton Augusto Goldman" (In: Biblioteca de Arte – Jornal O Grilo, Rio de Janeiro: Escolinha de Arte da Biblioteca Castro Alves, ano I, n.3, p.5, abr./mai. 1950, (segundo AUGUSTO RODRIGUES (1950): segundo LUCENA, 2016.).
21. (Vídeo) Les Ballets Russes de Nijinsky
Notas de contextualização (à parte) por [Lúcio José de Azevêdo Lucena(Org.)-Lúcio Leonn].
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